Capítulo 8 - Conversas pesadas — A despolarização de discussões diversas
- assessoriaeditoria
- 29 de dez. de 2023
- 3 min de leitura
Dia: 22/12/23 — Acesse o link para ouvir a leitura do capítulo 8:
Na virada do século, a grande esperança para a internet era que ela nos permitisse entrar em contato com opiniões divergentes. Contudo, ao agregar aos debates de vozes novas e perspectivas privilegiadas, a internet também se tornou uma arma para mentiras e desinformação.
Ouvir uma opinião oposta não necessariamente motiva alguém a pensara própria posição, na verdade, só aumenta seu apego por ela. Apresentar dois extremos não é o caminho correto. Isso é parte do problema da polarização. Psicólogos deram um nome para isso: viés binário. Simplificar um tema complexo dividindo-o em duas categorias de modo a obter clareza e conclusões bem definidas é uma tendência humana natural.
Uma dose de complexidade pode interromper ciclos de confiança e iniciar ciclos de repensamento.
Acabei chegando à conclusão de que a melhor maneira de permanecer imparcial é explorar os momentos que afetam todos nós: as conversas difíceis que temos pessoalmente e pela internet.
Resistir ao impulso de simplificar é um passo rumo a uma maior fluência em discussões, afetando profundamente a maneira como nos comunicamos sobre questões polarizadas.
Porém, quando as únicas opções disponíveis são preto e branco, é natural entrar em um jogo de “nós contra eles” e se concentrar na briga, não na ciência. Para os que estão em cima do muro, as pressões emocionais, políticas e econômicas favorecem o desinteresse ou o desmerecimento do problema quando são obrigados a escolher um lado.
Para superar o viés binário, um bom ponto de partida é perceber a variedade de perspectivas dentro do espectro de um assunto.
Céticos apresentam uma postura científica saudável; não acreditam em tudo que veem, escutam ou leem, mas fazem boas perguntas e ajustam seu raciocínio às novas informações que vão adquirindo. Já os negacionistas ficam no campo do desdém, presos ao modo pastor, advogado ou politico; não acreditam em nada que venha do outro lado. Ignoram ou distorcem fatos para apoiar suas conclusões predeterminadas.
Nosso papel como consumidores de informações é aceitar pontos de vista mais variados.
Quando alguém bem informado admite não ter certeza, as pessoas se surpreendem e acabem prestando mais atenção na essência do argumento.
Psicólogos notam que as pessoas preferem ignorar ou até negar a existência de um problema se não gostarem de sua solução.
A presença de nuances em conversas sobre como melhorar a situação pode ajudar a tirar o foco do problema e a concentrá-lo nas soluções.
Toda descoberta empírica levanta questões não solucionadas sobre quanto e onde os resultados serão replicados, nulificados ou revertidos. As contingências são todos os locais e população em que um efeito pode mudar.
Reconhecer a complexidade não diminui os efeitos de convencimento de palestrantes e escritores — pelo contrário, isso desperta mais confiança. Eles não perdem público nem leitores, mas mantêm o engajamento enquanto alimentam a curiosidade.
Em alguns dos meus trabalhos públicos anteriores, porém, me arrependo de não ter me esforçado para enfatizar áreas em que as evidências eram incompletas ou conflitantes.
Pesquisas sugerem que muitos escritores caem nessa armadilha de tentar manter uma narrativa consistente em detrimento de um registro fiel.
Quanto maior a distância entre nós e um adversário, maior a probabilidade de simplificarmos demais os motivos por trás de suas opiniões e de inventarmos explicações distantes da realidade. O que funciona não é pensar sob outras perspectivas, mas buscá-las: realmente conversar com as pessoas para entender as nuances de suas visões.
Em um experimento, se um oponente ideológico dissesse, antes de tudo, “tenho muito respeito por pessoas como você, que defendem seus princípios” os adversários apresentavam uma propensão menor a encará-lo como inimigo — e demonstravam mais generosidade.
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